sexta-feira, 4 de junho de 2010

A simplicidade do Evangelho

O capítulo 12 do evangelho de Mateus, relata a simplicidade de Jesus expondo a arrogância dos mestres da lei e dos fariseus de seu tempo. As autoridades religiosas censuravam-no constantemente. São diversos os exemplos, ficamos com alguns.
Os seguidores de Jesus colhiam e comiam espigas no dia considerado sagrado. Os fariseus reclamaram: “Eis que os teus discípulos estão fazendo o que não é lícito no sábado” (Mateus 12.2). Jesus responde dizendo que a misericórdia era mais importante do que o sacrifício. Diante da cura de um enfermo em plena sinagoga, demonstram a ausência de misericórdia: “É lícito curar no sábado?” (vs. 10). Quando Jesus libertou um opresso das amarras dos demônios que o atormentavam, os escribas e fariseus blasfemaram: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (vs. 24). Por último, pediram ao Mestre que fizesse algum sinal (vs. 38). Cristo responde indiretamente, que o principal sinal seria a sua própria ressurreição – mas advertiu que, mesmo assim, eles continuariam incrédulos.
Jesus foi perseguido pelos clérigos porque a sua mensagem mostrava a verdadeira face de suas ações. Os líderes judeus sobrecarregam o povo com obrigações sem sentido, criando um sistema religioso que mantivesse seu poder e seus privilégios. Jesus não tinha dificuldades com a lei mosaica, instituída por Deus. O incômodo do Mestre era com os apetrechos e pesos acoplados à lei. Sua proposta era resgatar o real sentido das ordenanças divinas – e ele a expressou com uma proclamação antológica: “Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei". A religiosidade sobrecarrega, enquanto que a mensagem de Jesus alivia.
Dois mil anos se passaram, e quando analisamos o cristianismo que temos vivido, percebemos que também nós, à semelhança daqueles fariseus e doutores da lei, temos posto tantos apetrechos no Evangelho que a prática de nossa fé se torna pesada e confusa. A Igreja Evangélica coloca sobre os crentes um fardo de regras e obrigações difíceis de suportar.

É necessário pensar no que de fato é a experiência do Reino de Deus e no que é simples ornamento. Podem ser belos, úteis, justificáveis, funcionais e bem intencionados, no entanto, não é isso a essência da vida cristã. As estruturas eclesiásticas não são a Igreja. As coisas que construímos para facilitar a divulgação da fé não podem ser confundidas com o próprio Evangelho. Pastores vivem tentados a impressionar os ouvintes com o poder das suas palavras através de técnicas de oratória.Não é falar bonito que convence, mas o poder de Deus.
Alguns líderes pensam que espiritual é tudo que é apresentado numa roupagem exótica e excêntrica. Louvor extravagante? Deve ser bom. Atos proféticos? Atraem o público. Orações poderosas de grandes homens de Deus? São bons recursos de marketing. Em decorrência desse pensamento, práticas espirituais como o estudo da Bíblia, oração sistemática, serviço cristão e comunhão são vistos como traços da tradição que não provocam entusiasmo.
O templo, as organizações eclesiásticas, a liturgia, os programas e as atividades não são em si o Evangelho. É possível viver o Evangelho sem se envolver com essas estruturas eclesiásticas, assim como é possível estar totalmente envolvido com elas e não conhecer a Cristo.
É preciso viver Deus na Igreja. Esgota-se quem carrega os apetrechos da fé. Talvez a confissão de pecado que tenhamos que fazer como Igreja cristã seja por ter tirado Deus do centro e posto em seu lugar as coisas referentes a ele. O Espírito Santo pode agir dentro das estruturas que criamos, mas age também a despeito delas. Por isso, não é aconselhável que se baseie a vida em nome de uma denominação, mas é coerente que aqueles que têm crido entreguem-se por completo ao Senhor, a fim de que o Evangelho frutique em sua vida e também no dia a dia da comunidade.

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